domingo, 21 de novembro de 2010

Deseducação Brasileira


A violência em colégios públicos assusta, mas fico ainda mais chocada com a agressividade de jovens de classe média, “bem nascidos e criados” ou não...

Um tanto ilegível a inscrição “Eugênia é porca tem estudo + não tem educação”, pichada num muro do Centro, há alguns meses. Imagino que tenha sido feita por um rapaz simples e decepcionado com o comportamento de Eugênia, que estudou em colégio particular, talvez curse faculdade – moça letrada e mal-comportada. Contraditório como tantos outros aspectos da atualidade.

Lembro que, há vinte anos, fiquei também muito decepcionada ao visitar um desses colégios, pelos modos dos funcionários que atendiam no local.

Não quero identificar esse colégio nem as circunstâncias que me levam a escrever sobre o tema, pois faria injustiça, atribuindo os fatos a uma ou outra instituição ou profissional, quando vejo que se trata de algo generalizado nos colégios de classe média do Brasil. Vou então narrar fatos, alterando e omitindo detalhes, para dificultar identificações.

Um pai foi chamado à escola de seu filho e voltou revoltado, dizendo que se sentia como se o tivessem posto de castigo e já não reconhecia mais seu próprio filho.

Contou que recebeu um aviso de que o filho só entraria acompanhado, porque era acusado de indisciplina. Quando chegou, foi informado de que deveria esperar a chegada de um diretor para uma reunião. Depois da espera, a reunião começou com outros funcionários. O diretor só chegou no final, dizendo que enviaria uma notificação da suspensão do aluno depois, porque ainda não a tinha redigido.

Ao entrar na sala de reunião, seu filho sentou-se à direita da cabeceira. A funcionária que se sentou na cabeceira indicou ao pai a cadeira à sua esquerda.

Antes de entrar, ele orientou o filho a só falar quando fosse autorizado. Mas o garoto, logo que ouviu os primeiros relatos da funcionária responsável por “disciplina”, iniciou sua defesa. Ele então não se conteve e repreendeu o filho, dizendo que deveria esperar que lhe dessem a palavra. Os funcionários nada disseram.

Mas o pai, logo que fez uma primeira manifestação sem pedir licença, foi surpreendido com um olhar de reprovação da funcionária que ocupava a cabeceira.

Então o filho podia falar sem pedir licença e até interromper manifestações, sentar-se a direita da cabeceira, mas ele deveria permanecer com bons modos em meio àquelas circunstâncias.

E seu filho ainda tuteava com a encarregada de disciplina. Tutear é um verbo pouco conhecido no Brasil, mas de extrema relevância no estabelecimento de relações de respeito, estruturadas por meio de hierarquia, das regras que determinam posição social.

Falando sobre o tema com um amigo cujos filhos estudaram em colégios particulares, ele me disse que isso é a educação moderna, “porque não querem bloquear as atitudes das crianças”.

Eu entendo, no entanto, que as más atitudes precisam, sim, ser “bloqueadas” e que é preciso incutir noções de respeito, de subordinação ou de hierarquia nas crianças.

Usando expressões como senhor e senhora, um jovem demonstra reconhecer que está diante de alguém que ocupar uma posição superior. Porque viveu mais que ele, estudou e passou por diversos outros processos, que lhe permitiram ocupar tal posição. Se quiser ser tratado com igual deferência, deve esforçar-se para elevar seu próprio nível.

Entendo que se trata de uma regra básica para educação de qualquer jovem. Porque já fui adolescente e sei que esses conceitos são muito importantes nessa idade. Todo jovem deseja autoafirmar-se e a maioria tem dificuldade para submeter-se às regras sociais. A rebeldia é algo natural nos adolescentes. Por isso, lembro que tínhamos enorme satisfação em poder abolir essas expressões de respeito, no tratamento com adultos, professores, etc.

Mas entendo que, se a sociedade cede a esse instinto de rebeldia, satisfaz gratuitamente o desejo por intransigência, vai retardar ou impedir que o adolescente supere seu próprio orgulho, compreenda que deve respeitar regras para ser aceito, ocupar uma posição, ser também respeitado.

É comum haver jovens que não conseguem um emprego, porque têm dificuldade para aceitar uma relação de subordinação, mesmo quando são educados para respeitar a hierarquia. Acredito que deva ser também difícil para quem nunca recebeu esse tipo de educação. Mas estou certa de que as dificuldades são bem maiores para quem recebeu educação em casa e depois foi submetido a um ambiente desses. Pois, no primeiro senhor ou senhora que pronunciar, será execrado por seus colegas. Logo vai tratar de adaptar-se aos costumes ali estabelecidos. Com isso, é natural que passe a questionar também todos os outros valores e princípios ensinados por seus pais e as demais regras que lhe forem impostas. Acaba por ter enorme dificuldade para distinguir o que é certo e errado, para ser então tratado como um desajustado social.

É nesse momento que os colégios costumam intimar os pais e lhes transferir o problema.

Depois de um grave escândalo envolvendo adolescentes, um tradicional colégio particular publicou em jornal uma nota dizendo que aqueles indivíduos não eram seus alunos, mas solidarizou-se com os colégios nos quais estudam, afirmando que as instituições não podem ser responsabilizadas pelo comportamento de seus alunos.

Eu pergunto então: quem se responsabiliza?

Será que podem mesmo abolir as regras de boa convivência social, cultivar o demônio dessas crianças, instigando a rebeldia, que já é natural em todo adolescente e depois lavar as mãos dizendo que não são responsáveis por sua educação? Mesmo quando se denominam instituições educacionais?

Será que tudo isso é uma conspiração antifeminista, que pretende, no final das contas, afirmar que a responsabilidade é das mães que trabalham fora, como todos dizem quando falam desses jovens. Mas pobres das mães que tentam educar seus filhos, para depois colocá-los nesses locais, onde todos os bons modos são ridicularizados.

Pobre também de Eugênia!!! Deve ter perdido um potencial namorado e muitas outras oportunidades... Será que um dia uma menina dessas pode acordar? Perceber, para o seu próprio bem, que precisa educar-se? Eu espero que sim. Que a Eugênia entenda que sua aparente liberdade é também sua pior algoz.

O fato é que cedo ou tarde os jovens vão sofrer por causa da própria falta de noção de regras e limites. Por isso, espero que tenham a compreensão de que há uma loucura institucionalizada no sistema educacional brasileiro e que precisam, sim, voltar às boas regras de conduta de seus pais e avós.

A rebeldia é também preciosa, porque nos instiga a agir para melhorar o meio em que vivemos. Mas é preciso cuidar para bem direcioná-la, buscando defender boas causas. Um rebelde sem causa é apenas um ridículo desajustado social.

Espero também que todos saibamos reagir contra essa situação e exigir que as instituições educacionais assumam responsabilidade por seus atos, cumpram seu papel de educar.