terça-feira, 9 de agosto de 2011

Motocicletas com Cintos de Segurança



Depois de sete anos de pesquisa, foi possível construir e testar o protótipo de uma estrutura tubular em motocicleta, com cintos de segurança para condutor e carona.

O nome é Motoiola – mistura de motocicleta com gaiola. Foi inspirado na ideia original. O projeto hoje é muito diferente de uma gaiola.



A estrutura do protótipo chama-se Alveolar. Foi desenvolvida especialmente para esse projeto, depois que a I9, Empresa Junior de Engenharia Mecânica da UFSC, concluiu que a resistência das estruturas tradicionais é insuficiente para um projeto como esse.



A estrutura Alveolar é formada por módulos de pedaços de tubos dobrados, unidos por duas placas, fixadas uma na outra, em torno de curvaturas. Essas conexões são bastante resistentes e podem ser feitas sem furos nos tubos, que são contornados pelos parafusos que unem as placas, o que preserva sua resistência. As placas também podem ser moldadas no formato das curvaturas.

Deve ser comercializada como um acessório. Pois é apenas encaixada em suportes, ou seja, não é fixada na motocicleta.

Esse sistema facilita a instalação, além de evitar danos à estrutura da motocicleta e agravamento de riscos que eventualmente poderia ocorrer com a fixação. Pois existe ainda a possibilidade de ejeção, ou de um motociclista ser lançado para fora da autopista – evitando atropelamentos após acidentes –, ou ainda de o impacto de um acidente ser amortecido pela projeção do equipamento com os motociclistas a distância.



O suporte dianteiro é fixado num mata-cachorro, que é também um acessório. No protótipo, um tubo curvado em formato semelhante a um C foi parafusado sobre o mata-cachorro. O ideal é a produção de mata-cachorro com as pontas voltadas para frente, com uma argola soldada em cada extremidade, para encaixe dos tubos da estrutura.

O suporte traseiro do protótipo é um tubo curvado, passado de um lado ao outro, através de vão existente acima do eixo da roda traseira, na YBR (Yamaha). É também apoiado em abraçadeiras feitas de cabo de aço, uma em cada lado, fixadas no suporte de bagagem.

As pernas e joelhos são protegidos por portinholas feitas de blocos de placas de plásticos, com almofadas na parte interna e réguas metálicas na parte de fora. O conjunto é costurado e fixado por cabos de aço.

O cinto de segurança deixa os ombros soltos, dando liberdade de movimento, mas tem praticamente seis pontos de fixação: contorna a cintura e os ombros, passando embaixo dos braços. É fixado numa placa, no meio das costas. O motociclista se esquece de que está usando cinto de segurança.



É também colocado com muita facilidade, basta passar por cada braço e fechar na frente, num único ponto. Para retirar, é só abrir fivela e todo o cinto se solta.

Agora busco investidores ou empresas interessadas em fabricar e colocar o produto no mercado.



Para demonstrar a eventuais investidores ou parceiros o interesse dos motociclistas nesse produto, foi aberta uma lista de espera ou reserva. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail: soniardecastro@gmail.com. É preciso informar nome, endereço, telefones e modelo da motocicleta.

Obs.: O pedido de patente internacional da estrutura Alveolar foi publicado em 07/07/2011. Mas já foi depositado novo pedido no INPI com melhorias.


Os testes

Em trilhas muito acidentadas, as curvas foram realizadas com toda tranquilidade, demonstrando que ficam mantidas as condições de equilíbrio e dirigibilidade da motocicleta.

A primeira portinhola era inteiriça e gerou alteração no movimento em sentido diagonal, na mudança de pista. Com os vãos entre os blocos, esse impacto foi eliminado.


O começo dessa história

Em agosto de 2004, eu sonhei que estava numa motocicleta 250 cilindradas e colocava um cinto de segurança, passando-o sobre o ombro.

Tinha começado a trabalhar no Besc. Fui transferida da agência Campinas, São José, para a Praça XV, Florianópolis e usava ônibus.

Lembro que, na mesma época, ouvi pela primeira vez a expressão: “O para-choque é a testa do motociclista.”

Até então, nunca pensei em conduzir uma motocicleta. Andei como carona, havia já muito tempo. Mas entendi que deveria fazer uma gaiola com cinto de segurança. Então voltei para a auto-escola, para ter habilitação também para motocicleta. Comprei uma YBR usada em novembro. Elaborei o primeiro pedido de patente e depositei-o, em dezembro de 2004.

Em 2006, a I9, Empresa Junior de Engenharia Mecânica da UFSC, realizou um estudo de viabilidade.

Segundo o estudo, na segunda Guerra mundial, um projeto semelhante fracassou, em razão do “aumento de altura do centro de massa, não permitindo que a moto realizasse curvas de pequeno raio, com velocidades relativamente altas”.

Entendi que precisava evitar impactos na aerodinâmica, alteração no centro de massa e riscos de danos à estrutura original.

Soube também que a BMW e a Renault já fabricam “scooter” ou motonetas com cintos de segurança, vendidas no mercado externo. A BMW já foi vendida no Brasil, mas era cara.

Com essas informações, fui reinventando o projeto. Logo abandonei a ideia de usar proteção para a chuva, nas laterais, pois entendi que prejudicariam a dirigibilidade ou o equilíbrio.

Desenvolvi as placas com cintos de segurança, que eram então fixadas pelas laterais e depositei o primeiro pedido de patente internacional, em setembro de 2006.

O relatório da pesquisa internacional foi desfavorável. Então refis o pedido, restringido-o às placas com cintos de segurança e obtive parecer favorável em exame preliminar internacional, em junho de 2008.


A possibilidade de ejeção

Quando falava do projeto, qualquer pessoa que tivesse alguma experiência com motocicleta contava uma história de acidente, no qual os motociclistas ficaram bem, depois de ser projetados a distância. E manifestavam temor de agravamento dos riscos com a fixação pelos cintos.

Acabei sofrendo um acidente com essas características, em setembro de 2007. A minha primeira memória ainda é da batida do capacete contra o capô de um carro. Rolei e caí no asfalto. Senti o joelho esquerdo, no qual já havia sofrido uma cirurgia, em razão de um primeiro acidente em 2006.

Mas, quando a ambulância chegou, nem sequer precisei usar a maca. Tinha muitos hematomas, mas apenas o joelho esquerdo foi atingido com alguma gravidade. A frente da moto e o capô do carro foram destruídos.

Depois desse acidente, entendi que a estrutura deve ficar apenas apoiada sobre a motocicleta, permitindo que seja ejetada pelo impacto de um eventual acidente.

Mas estava desanimada e o projeto ficou meio abandonado até dezembro de 2008, quando o redesenhei e elaborei um novo pedido de patente.

Em 2009 desenhei apoios em mata-cachorros e a primeira portinhola flexível inteiriça, que era grande e acompanhada de telas fixadas na parte superior.

As telas foram imaginadas depois que consultei o engenheiro mecânico Daniel Pereira. Ele concluiu que uma gaiola agravaria os riscos, ao se deformar durante um acidente. Disse que os tubos poderiam estrangular os motociclistas e, caso os pedaços se soltassem, suas pontas poderiam causar outros ferimentos graves.

Para evitar riscos de estrangulamento, pensei em preencher os vãos entre os tubos com telas e, da ideia das telas, surgiram as portinholas flexíveis. Havia tempo que buscava uma solução para proteger os joelhos, que fosse fácil de abrir e fechar e não ocupasse espaço nos estacionamentos.

Com o desenvolvimento das estruturas atuais, desisti das telas. Pois acredito que são bastante resistentes para eliminar o perigo de agravamento dos riscos em razão de deformação.

A estrutura Alveolar elimina também o risco de ferimentos pelas pontas dos tubos, pois elas são curvadas para dentro dos módulos. Na Estrutura Curvilínea Integral praticamente não há pontas nem mesmo risco de desconexão.


Estrutura Alveolar

No início de 2010, pedi orçamento de projeto de um protótipo para a I9. Mas então os estudantes responsáveis acharam que o projeto seria inviável. Disseram que as estruturas conhecidas não são bastante resistentes para garantir que os benefícios superassem os riscos.

Mas disseram também que o suporte do colete do condutor poderia representar um risco para o carona. Logo pensei que o risco seria eliminado com um suporte circular, com o vão na altura da cabeça.

Depois dessa reunião, pensando no círculo, fiz ligação com os antigos mata-cachorros, feitos de tubos curvados e inteiros e comecei a imaginar uma estrutura de muitos mata-cachorros: leve e resistente. Então desenhei a estrutura Alveolar e depositei o pedido de patente em abril de 2010.


O Protótipo

Apesar de estar otimista com a estrutura Alveolar, andava ainda desanimada e com dificuldades para construir o protótipo. Então voltei a ter um sonho ano passado.

Eu vi um veículo da largura de uma moto. Ao me aproximar, ouvi tocar um celular dentro dele, com o seguinte letra: para de dizer que não dá, para de dizer que não dá, para de dizer que não dá...

Ao acordar, escrevi isso numa folha, fixei na parede do meu escritório e decidi insistir na realização do protótipo. O serralheiro que costumava fazer meus serviços dizia que estava doente e muito ocupado, então pesquisei outras empresas. Todos diziam que seria difícil fazer as curvaturas muito próximas e acentuadas. Mas, em dezembro, consegui um orçamento com a JC Usinagem, em São José.

Eles acabaram cortando e soldando os tubos para fazer as curvas. Mas demoraram para me mostrar o serviço. Quando vi, entendi que era muito melhor que nada. Serviria para os testes de dirigibilidade. Ajudei o funcionário Michel a fazer a montagem, em quatro manhãs de sábado, no final de abril e maio.

O primeiro teste foi como o nascimento de um filho, que agradeço a Deus.

Uma semana depois, uma pessoa me perguntou se eu estava orgulhosa. Disse que estava mais espantada que orgulhosa. A primeira ideia veio de um sonho e outro sonho me impulsionou ano passado. As soluções também surgiram de forma praticamente automática. Recebi dicas de vários modos, em circunstâncias muito diversas. Sinto-me orgulhosa, portanto, apenas por ter acreditado, quando muitos disseram que era impossível, outros ainda me chamaram de louca.

Outros Projetos e Ideias

Busdrô – Quadros para Publicidade Dentro de Ônibus

São quadros simples e resistentes. Feitos de apenas duas lâminas, com réguas nas beiradas internas, fixadas por rebites. Foi desenvolvido um sistema muito simples para posicionar e retirar a folha de papel com os anúncios, havendo abertura apenas num dos lados.

Como o material é impresso em papel e trocado com facilidade, permite a comercialização de periodicidade curtas, até diária.

Permite também a veiculação de anúncios pequenos e baratos, pois os quadros ficam perto do público. São instalados atrás de encostos de assentos e diante de janelas. Estes são fixados em suporte – que fica logo acima da janela –, feito de barra metálica dobrada, deixando o quadro a uma distância próxima de 10 cm do vidro, o que permite ainda o uso de cortinas.

Apesar de ser possível operar com preços acessíveis, a comercialização de períodos curtos e a veiculação de vários anunciantes simultaneamente devem proporcionar um ótimo retorno financeiro. Assim, pode tornar-se uma importante fonte de custeio para o setor de transportes coletivos urbanos.

Deve ser operado por meio de franquias, o que permite a realização de licitação pública, para que se obtenha o melhor percentual possível de retorno para custeio dos transportes.

Pedidos de patente depositados.


Ponte Balsa

Ponte flutuante feita de módulos semelhantes a balsas, que podem ser desconectados para a passagem de embarcações ou para preservação de paisagens históricas e/ou simbólicas, como o entorno da ponte Hercílio Luz, em Florianópolis.

Pode funcionar durante a semana e ser retirada para a realização de visitação turística, em feriados e fins de semana, quando há menor movimento no trânsito.

Foi depositado pedido de patente, que será abandonado, para que caia em domínio público. Assim, qualquer empresa pode usar esta ideia para elaborar projetos que viabilizam acessos em locais como a ligação entre a Beiramar Norte e o bairro Estreito, Florianópolis.

Já existem pontes flutuantes funcionando em rios, em outros países, como Angola.



Alças para Fixar Chapéus nas Orelhas



Alças feitas de fitas e fios de silicone, fixadas em torno das orelhas. Ficam invisíveis e evitam que os chapéus se soltem com o vento.

Podem se usadas com cabelos soltos sob o chapéu. Basta soltar os fios com auxílio de um palito, depois de prender as alças.

São costuradas em velcro para facilitar a instalação em chapéus.

O tamanho é regulado por meio de um nó no fio de silicone, entre dois pontos de uma costura manual. Este nó pouco apertado pode ser afrouxado e movido com a ponta de um alfinete.



Pedidos de patente depositados no INPI e WIPO.

Podem ser feitos pedidos pelo e-mail: maruicapas@gmail.com.


Calça Estradeira

Calças com abertura na lateral das pernas, usadas para proteção contra chuva e frio, sobretudo em motocicletas. São vestidas e despidas com muita facilidade.

O tamanho é regulado por meio de velcro disposto em sentido horizontal, na cintura e quadris.

Tem processo de patente em andamento, com parecer favorável em pesquisa internacional.


Sobrepé





1 - Capa para proteger calçados. Feitas de tecido impermeável, com apenas um bico de sola e uma alça que passa por baixo do calçado. Fechada na lateral e na alça inferior por velcro.

2 - Polaina impermeável com abertura na lateral, fechada por velcro. Pode ser usada com calçado impermeável ou de plástico, para proteger as barras das calças.



Processo de patente em andamento, com parecer favorável em pesquisa internacional.

Sobrepé e Estradeira são marcas registradas.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Eca, que horror!

Segundo matéria publicada na edição da Istoé de 06/07/2011, na última década, o número de crianças de menores de 14 anos responsáveis pelo sustento de suas famílias no Brasil passou de 12.500 para 132.000 - um aumento superior a 1.000%. A matéria atribui a informação a dados preliminares do censo de 2010 do IBGE.

Desde o último dia 22 de maio, convivo com o mal-estar causado por uma matéria do Diário Catarinense, que tratava do caso de uma criança que chegou ao extremo de ser assassinada, por um homem que alegou desentendimento pelo preço de uma relação sexual.

Segundo outra matéria do DC do dia 16/05, a vítima tinha 11 de idade, mas aparentava 8 ou 9, por ter um corpo mirrado. Ainda assim, atuava como prostituta profissional, às margens da BR 101, em Tijucas.

Afirmam que ela foi recolhida das ruas pela policia mais de 40 vezes. Tinha passado por um abrigo, mas sempre era devolvida para a família. Os representantes do Conselho Tutelar ainda dizem que fizeram todo o possível e lançam a culpa sobre a família.

Entendo que a família pode ser culpada pela primeira desgraça dessa menina, mas a sociedade assumiu a culpa ao devolvê-la aos pais. Passou a ser cúmplice, conivente com todo esse absurdo.

Afinal, que política pública é essa? As autoridade sabem que uma família atua de modo negligente ou criminoso e permitem que uma criança continue a mercê dessas pessoas? sem nenhuma proteção, prostituindo-se numa via pública.

Apesar de tão escandaloso, esse caso só ganhou manchetes porque um homem empregado e casado, com a esposa grávida, acabou por matá-la a socos. Deixou-a num matagal, onde seu corpo foi ainda alvo de abutres.

Quantas meninas conhecidas da polícia, dos Conselhos Tutelares e do Ministério Público vivem nas mesmas condições? em cidades como Tijucas, que tem apenas 31 mil habitantes, ou seja, uma cidade pequena.

Fica claro, portanto, que as instituições públicas são absolutamente negligentes em relação à proteção às crianças. Como ousamos ter ainda uma legislação que proíbe as pessoas honestas e bem intensionadas de oferecerem um trabalho digno aos jovens?

Em 1973, burocratas da OIT - Organização Internacional do Trabalho criaram uma convenção internacional sobre idade mínima para admissão em emprego, que pretendia já a total extinção do trabalho infantil.

Por certo, tratava-se de burocratas de países com economia desenvolvida, na época ainda estável, onde o controle de natalidade estava já bem estabelecido, havendo casais que optaram por nunca ter filhos, ou ter um, dois, no máximo. Países que têm um sistema de educação pública bem estruturado e programas de proteção a crianças e jovens desamparados ou maltratados.

O Brasil reeditou essa legislação, sem se incomodar com o nível de seu próprio desenvolvimento econômico nem com qualquer estrutura de assistência e proteção àqueles que vivem em situação de risco. Acabou por restringir ainda mais o trabalho dos jovens, proibindo também a educação para o trabalho.

O artigo 6° da referida convenção internacional autoriza o trabalho de crianças e jovens dentro de quaisquer instituições de ensino, em programas educacionais, restringido a idade apenas para o trabalho de aprendizes em empresas.

Mas a lei 10.097/2000 diz: “É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos”. Ou seja, a lei brasileira proíbe que haja aprendizes menores de 14 anos, em quaisquer instituições.

Além de proibirem, colocaram a lei em prática, acabando com as aulas de Iniciação para o Trabalho, que havia nos currículos das escolas públicas, nas quais ensinavam trabalhos manuais. Até mesmo destruíram as hortas que havia nas escolas, onde ensinavam a plantar legumes e verduras, que ainda contribuíam para a merenda escolar.

A convenção internacional também faz uma ressalva às unidades econômicas familiares, no inciso 3 do seu artigo 5°. Mas estas, no Brasil, foram o primeiro alvo dos conselheiros titulares, que não abrigam nem alimentam – tampouco têm recursos para enfrentar cafetões e traficantes. Mas estão dentro de todas as comunidade e têm autoridade para constranger os pais e qualquer pessoa que tente dar uma oportunidade a estes jovens de aprender um trabalho honesto, com o qual possam se sustentar e desenvolver uma profissão, ter uma perspectiva de futuro.

Em nenhum sociedade é possível que todos cursem faculdade e sejam doutores. Mas é imprescindível que todos possam ter uma profissão. A maior parte dos trabalhos braçais só é aprendida na prática. Entendo que é difícil ensinar um adulto que nunca teve familiaridade com o trabalho pesado. Então a adolescência é a fase mais adequada para isso.

Lembro que, há alguns anos, um programa de televisão fez uma pesquisa por telefone, pedindo que o público dissesse se é contra ou a favor do trabalho infantil, tentando assim justificar essas leis. Mas nenhum dos que se disseram a favor da proibição legal foi intimado a contribuir para dar alimento, proteção e educação às crianças pobres desse país.

Os números agora mostram que o Eca e outras leis conseguiram, sim, afastar os pais de suas famílias. Desautorizados, impedidos de levar o filho para trabalhar como ajudante de pedreiro, marceneiro, carpinteiro e sem condições de sustentá-los até completarem dezesseis anos, com o valor dos salários pagos neste país, os chefes de família desapareceram.

O censo prova isso, mostrando esse crescimento assustador do número de crianças responsáveis pelo sustento de suas famílias. Mas também obrigadas a se sujeitar a muitas formas de abusos e constrangimentos, porque o único meio de obterem esse sustento agora é na clandestinidade.

Na prátia, portanto, as leis que proíbem os jovens de trabalhar apenas proporcionam mão-de-obra fácil aos traficantes, cafetões e outros criminosos. Ou seja, acaba por facilitar a exploração de crianças nas “piores formas de trabalho infantil”.

Reprodução autorizada

sábado, 9 de julho de 2011

Esperto não: estúpido, inválido, deficiente moral!

Vivi tempos em que as pessoas me olhavam com espanto quando eu dizia que a realidade é absurda ou que “supera toda ficção”. Vivo tempos em que me olham com espanto quando questiono o absurdo de nossa realidade.

Uma sociedade que escondia suas mazelas – para pregar que o ser humano é bom – tenta hoje me convencer de que a perversidade, a desonestidade, a malandragem são coisas “aceitáveis” ou pior ainda, tentam exaltar os inescrupulosos chamando-os de “espertos”.

Reduzem todo conhecimentos humano à lei da relatividade, evitando o discernimento entre o bem e o mal. Ridicularizam o discernimento, chamando-o de “maniqueismo”

Não sou tão velha para ter um passado que hoje parece tão distante, mas vivi o advento da Internet: a comunicação sem fronteiras. E, apesar de sequer termos tempo para dizer bom dia a um filho, de não termos a menor ideia do que eles verão e ouvirão durante o dia, oro para que Deus nos permita ter sempre uma Internet sem censura.

Pois acredito que Jesus Cristo é Deus que se tornou humano para nos ensinar como sair de todo esse lamaçal. E um de seus ensinamentos é: “a verdade vos libertará”.

Entendo então que a maldade é uma doença humana, que precisa ser conhecida, diagnosticada, para ser tratada e curada.

Assim, acho que seremos capazes de convencer nossos educadores profissionais de que é preciso introduzir ensino moral nos currículos escolares. Sobretudo de que é preciso estabelecer e praticar regras de boa conduta nos ambientes escolares, educando nossos filhos para adquirirem discernimento suficiente para formar um bom caráter. Pois uma pessoa de caráter bem formado não só pode como precisa saber que seres humanos são capazes das piores perversidades. Para entender que deve com constância lutar para superar a própria tendencia ao mal.

Mas acredito também que antes teremos que convencer a sociedade que uma pessoa que estuda, tem acesso recursos diversos e usa sua capacidade para encontrar meios para tirar vantagens de quem não tem ou teve os mesmos privilégios é estúpida e não “esperta”.

Afinal, quem precisa se apoderar daquilo que pertence aos outros reconhece que não possui capacidade para obter o que precisa para si, em igualdade de condições, apesar de todos os privilégios que usufruiu e usufrui. Reconhece ser um incapaz, um inválido.

Um inválido que possui braços e pernas, olhos e ouvidos, todos os sentidos biológicos funcionando em perfeito estado é o pior dos inválidos: um deficiente moral.

Compreendendo isso, talvez, nossos educadores entendam que precisam frear a agressividade dos jovens e despertar interesse no trabalho honesto, na produtividade, na gentileza, na generosidade, na busca de melhores dias para a humanidade.

sábado, 2 de julho de 2011

É preciso tratar assédio moral como crime

Nos últimos meses, falei com duas pessoas que estão em tratamento por depressão, iniciado depois de um inquérito no seu local de trabalho: um emprego público. Um funcionário de uma prefeitura do interior e outro de uma repartição do Estado, na qual parte dos serviços foram terceirizados.

Nesse período, não atendi público, no meu local de trabalho, nem sequer tenho tempo para falar com muita gente. Então o índice de dois casos no universos das pessoas que conheço é extremamente alto.

Por questão de ética e ideologia pessoal, peço licença para evitar a identificação dessas pessoas e de outras, no caso que vou relatar a seguir.

Discordando de seu superior hierárquico, outra funcionária denunciou, em órgão da própria instituição em que trabalha, procedimento ilegal. Mas, depois de formalizar a denúncia, viu-se ainda mais pressionada a colaborar com o procedimento questionado. Insistiu em manter sua postura, apresentando novas provas. No dia seguinte, foi intimada a dar esclarecimentos sobre uma denúncia contra si mesma.

Redigiu um documento, afirmando que se tratava de uma acusação falsa e pedindo cópia de relatórios e de filmagens, para provar que estava sendo alvo de uma denúncia infundada. Mas não lhe entregaram nada.

Então insistiu no pedido, remetendo-o a uma instância superior. Tampouco conseguiu obter as provas requeridas.

Sem dinheiro para pagar um advogado, fez uma petição à Justiça do Trabalho, alegando o direito constitucional de acesso a todos os meios necessário à própria defesa.

Para tanto, passou boa parte de suas férias estudando a CLT. Não encontrou nada que fizesse referência a assédio moral. Entendendo que, para formalizar uma petição, precisava adaptá-la à legislação trabalhista, requereu as horas extras que teve que trabalhar em sua casa, para formalizar as explicações. Um valor simbólico, que parece ter ofendido o juiz. Sua primeira providência foi mandar que ela atribuísse valor à causa.

Então redigiu novo documento, insistindo em dar à causa o valor das quatro horas extras que teve que trabalhar em sua casa.

Mas, na audiência, sem advogado, viu-se acuada pelo juiz, acusada de fazer pouco caso da Justiça do Trabalho, por iniciar todo um processo pedindo apenas R$50,00.

Então esclareceu que se tratava de um valor simbólico, pois seu objetivo era denunciar o assédio moral ao qual estava submetida. Então o próprio juiz disse que ela deveria ter contratado um advogado, que lhe orientaria a pedir indenização por danos morais. Ela esclareceu que não pretendia obter vantagem financeira com o caso e insistiu em manter o processo, mesmo depois que foi ameaçada de condenação por litigância de má-fé.

O juiz então encerrou o processo sem julgar o mérito, o que ainda lhe permite reformular sua denúncia, requerendo indenização por danos morais.

Mas, ao consultar um advogado, ela descobriu que, para requerer indenização por danos morais, deve provar que foi moralmente afetada pelos fatos: que sofreu abalos emocionais, perdas em sua vida pessoal e/ou profissional.

Como conhecia o caso dos funcionários em tratamento por depressão, entendeu que, graças à sua fé em Deus e numa justiça que supera as instituições aqui estabelecidas, ela não sofreu danos morais e não tem mais nada a requerer. Mesmo porque, durante a audiência, foi informada, pelo representante da instituição na qual trabalha, de que já não existe mais nenhum precedimento investigativo contra si.

Uma história que acaba bem, mas assusta, pois explica a situação daqueles que sucumbem em depressão.

Entendo, portanto, que é preciso inibir esse tipo de procedimento, tratando o assédio moral como crime e oferecendo instrumentos para prevenir o dano. Pois o dinheiro não cura uma doença psíquica. É absurdo então falar apenas em indenização financeira, depois que o dano moral se configura. Sabemos que os tratamentos são feitos a base de medicamento que geram dependência. Na maior parte dos casos, prolongam-se por toda a vida.

Esses abalos, portanto, depois que se concretizam são irreparáveis.

Agressões físicas em geral podem ser curadas e ainda assim são tratadas como crime. Entendo que a violência moral deveria ser tratada no mínimo com o mesmo rigor. Para tanto, é preciso que se estabeleça dispositivos legais que inibam a ação, a omissão e a conivência com o assédio moral.