segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Contra injustiças: por direitos em parcerias civis


Fiz essa fotografia para uma matéria do Informativo Popular, de julho de 2003.

A senhora da direita faleceu há alguns anos. Chamava-se Maria Rasveiler Junkes. Foi parteira e enfermeira. A da esquerda é Maria Felizita Prim, sua empregada.

A relação de trabalho transformou-se numa parceria de toda a vida. Juntas fizeram os partos de pelo menos toda uma geração, em São Pedro de Alcântara.

Permaneceram sempre solteiras.

Na entrevista em 2003, a Sra. M. Junkes disse que jamais poderia dedicar-se a seu trabalho, se tivesse marido e filhos.

O fato é que, além de fazer partos em domicílio, ambas moravam no local de trabalho. Internavam parturientes e até doentes, pois não havia outra forma de atendimento na região.

Contaram que os bebês costumavam nascer à noite e elas chegavam a passar semanas sem dormir direito.

Mas hoje, já com 74 anos de idade, a Sra. Felizita faz até faxinas para pagar suas contas.

Está claro que ela dependia da renda da patroa para viver, comprar remédios, etc. Ela sempre teve problemas de saúde, apesar de sempre enfrentar trabalho pesado.

Acho absolutamente injusto que as uniões estáveis permitam usufruir de pensões e aposentadorias, enquanto esse tipo de parceria deixa os dependentes sem proteção alguma.

Por que alguém que estabelece uma relação de dependência financeira com pessoa com a qual tem relações íntimas deve ser tratado com maior consideração que outra que serve a patroa e toda a sua cidade por décadas de sua vida?

Talvez essa história possa servir como referência para que o assunto seja tratado no âmbito da parceria civil, sem questionar as relações íntimas, de modo que se faça justiça a essas pessoas, sem deixar margem para os que gostam de escandalizar-se com assuntos alheios.

Hoje as pessoas de São Pedro de Alcântara que têm alguma consciência da história da Felizita sentem-se devedores, pois ela não recebe da Previdência Social o que deveria para ter uma velhice tranquila. 

Entendo que isso é injusto com todos que pagam impostos e contribuem com a Previdência Social, pois esta deveria responsabilizar-se por essa conta.

Então todos nós brasileiros deveríamos abraçar essa causa e lutar para que as parcerias civis sejam reconhecidas, sem importar a preferência sexual das pessoas e sem questionar as relações íntimas. Para que o Previdência Social faça sua parte, transferindo a renda de pensões e aposentadorias a todos que estabelecem esse tipo de dependência financeira.

Por outro lado, fico chocada quando vejo pessoas que se dizem evangélicas combatendo essa luta.

Pois Jesus Cristo deixou sua mãe aos cuidados de um discípulo mais próximo. Não a deixou aos cuidados de seus parentes, João 19, 26-27: “Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: mulher eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a tomou para casa.”

Pior ainda é ouvir dizer que ninguém nasce homossexual. Pois a Bíblia ainda mostra que Jesus Cristo reconheceu esse fato e exaltou essa condição, em Mateus 19, 12“Porque há eunucos de nascença, a outros a quem os homens fizeram tais; e a há os que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do reino dos céus. Quem é apto para admitir, admita.”

O Apocalipse 14,4 também trata a castidade dos homens como uma importante qualidade: “...São estes os que não se macularam com mulheres, porque são castos...”

Nenhum comentário:

Postar um comentário